Situação Mundial: o meu balanço, quase dois anos depois da primeira infeção
O primeiro caso conhecido de COVID-19 já remonta a dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China. Em Portugal, as primeiras infeções começaram a ser reportadas em março de 2020, sendo que a 11 de março do ano passado a Organização Mundial da Saúde declarou esta doença como uma pandemia.
Desde essa altura, foram muitas as coisas que mudaram e continuam a mudar na nossa vida e no nosso dia-a-dia. Hoje, gostava de partilhar convosco como lidei e lido com tudo isto e como olho para o futuro.
Primeiro confinamento
Naturalmente que para vos contar como lidei com toda esta situação, tenho de começar pelo início e, como tal, recuar ao primeiro confinamento. Penso que foi nesse momento que me confrontei mais diretamente com esta ameaça desconhecida e me deixei invadir por sentimentos como choque, medo e, sobretudo, incerteza.
Incerteza em relação ao que iria ser o futuro em termos profissionais, mas também em termos de saúde. O receio da própria morte tornou-se mais presente, à medida que assistia ao verdadeiro cenário de guerra que se vivia em países tão próximos do nosso, como Itália ou Espanha.
Para mim, foi muito difícil estar separada da minha mãe e passar o dia sozinha com a minha filha Mariana, sem podermos sair, nem conviver com mais ninguém. Claro que passados alguns dias, acabei por me adaptar à situação e tirar o máximo partido da companhia da Mariana que, de outra forma, não poderia ter comigo durante tantas horas seguidas.
Os protocolos de higiene e de limpeza
Paralelamente, era necessário começar a definir os protocolos de higiene e de limpeza a adotar na clínica que, na altura, apenas funcionava para casos urgentes. Neste aspeto, foi muito útil para mim assistir a uma palestra com os Médicos Dentistas da Universidade de Medicina Dentária de Wuhan.
Nesse encontro, percebi que o protocolo que já tinha instituído na clínica não teria de mudar muito, uma vez que as nossas regras de higiene e de limpeza já eram bastante rigorosas. Assim, à época, as principais mudanças introduzidas prenderam-se com criar novos circuitos de circulação; higienizar as mãos com ainda maior frequência; usar proteções no calçado; vestir bata cirúrgica; e colocar purificadores de ar nas salas.
Nenhuma destas alterações me custou muito, com exceção do distanciamento físico que tive e continuo a ter de manter em relação aos meus pacientes. Quem é meu doente ou me conhece sabe como é importante para mim o toque e a proximidade e, infelizmente, isso continua a não ser possível na minha prática diária. A própria impossibilidade de me apresentar de rosto descoberto, sem máscara, foi inicialmente um choque grande para mim.
É possível retirar ensinamentos importantes da pandemia?
Sou otimista por natureza e, por isso, insisto em ver sempre o “copo meio cheio”. Portanto, sim, acho que há ensinamentos importantes que podemos retirar desta pandemia, desde logo, alguns que se prendem com aspetos muito práticos e simples do nosso quotidiano.
Julgo que o teletrabalho, com todos os desafios que coloca, tornou-se numa opção viável para uma percentagem significativa de trabalhadores que, afinal, podem cumprir as suas funções, mesmo quando surge um imprevisto, como uma avaria no carro, por exemplo, que os impossibilita de se deslocarem até ao seu local de trabalho.
Outro hábito que espero que tenha vindo para ficar é o uso de máscaras em espaços como os restaurantes, por exemplo. Para mim, faz todo o sentido que quem confeciona e serve a nossa comida use máscara.
A máscara, com todo o desconforto que pode causar, sobretudo a algumas pessoas em particular, revela-se um meio muito eficaz de prevenir o contágio por qualquer vírus que se transmita através de gotículas de saliva. Além disso, acaba por nos proteger dos danos da poluição atmosférica que é cada vez mais uma realidade nas nossas cidades.
Como vejo o futuro
No seguimento do que disse anteriormente, penso que o mundo nunca mais será igual. Em primeiro lugar, porque julgo que vamos ter dificuldade em libertarmo-nos de alguns objetos, como as máscaras, sobretudo em espaços fechados.
Além disso, vamos manter a necessidade de desinfetar as mãos com mais frequência e acho que o álcool gel não vai desaparecer da maior parte das superfícies, nem das bolsas ou carteiras da maior parte de nós.
A esperança na vacinação
O meu otimismo também assenta na esperança que tenho na vacinação e nos efeitos que ela surtirá. Contudo, não tenho dúvidas de que isso só é possível, se a vacinação avançar à escala global e não apenas nos países ricos ou desenvolvidos.
Portanto, é necessário apoiar os países mais pobres, pois considero que o fim desta pandemia só possa ser declarado quando todo o planeta (ou muito próximo disso) estiver vacinado.
Estar grávida em plena pandemia
A gestação de um bebé é sempre sinónimo de esperança. Claro que, neste contexto, uma gravidez simboliza ainda mais a esperança num futuro melhor.
É certo que sinto que vivemos, a nível mundial, um período de agitação social quase sem precedentes. Ainda assim, acredito que vale sempre a pena gerar novas vidas e também acredito que as minhas filhas irão ter um futuro risonho, até porque pretendo educá-las para que elas próprias ajudem a construir esse futuro risonho e um mundo bem melhor.
Balanço final
Julgo que só daqui a alguns anos teremos a noção exata do impacto que esta pandemia teve nas nossas vidas e quais as mudanças que ela operou e que vieram para ficar.
Mesmo assim, gostava de saber o que pensam sobre este tema. Como têm vivido estes quase dois anos de pandemia. E, ainda, deixar um forte abraço a todos os que perderam familiares ou amigos devido a esta doença.
1 Comment
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Ser otimista é a palavra chave, pois para já, vamos ter de cumprir as indicações da DGS, mesmo que isso implique destruir empresas/negócios, como está a acontecer exponencialmente! Outra coisa importante será a prática de exercício e bons hábitos alimentares diariamente, para aumentar a imunidade.
Desejo muita saúde para toda a equipe e familiares!!!