Por que devemos mesmo moderar o consumo de açúcar?
Quem me conhece sabe que sou gulosa e que, desde pequena, adoro doces e, por isso mesmo, sofri com muitas cáries dentárias.
Enquanto adulta e, especialmente, como médica dentista, sinto a obrigação de falar mais a fundo sobre o açúcar e o papel nocivo que ele pode representar contra a nossa saúde.
Não, não pretendo que este seja mais um artigo a apenas listar os malefícios do açúcar.
Quero que fiquem, antes de mais, a conhecer bem a história deste produto e a perceberem alguns dos perigos que a ingestão de açúcar comporta, os quais não passam apenas pelas cáries ou pela obesidade. Fique a saber mais sobre este produto tão presente no nosso quotidiano.
A história do açúcar
A origem do açúcar fica na Papua Nova Guiné, onde cerca de 9000 a. C a 8000 a. C foi plantada cana-de-açúcar. Mais tarde, este produto também começou a ser plantado na Polinésia, China, Pérsia e noutros regiões mediterrânicas.
Este era um produto valioso, porque raro, e era muito usado para adoçar os fármacos da época.
O açúcar terá chegado ao nosso país em 1339, sendo que no século XV a Madeira tornou-se num dos grandes centros de produção de açúcar europeus.
Hoje em dia, o açúcar é um ingrediente pouco recomendado, por aumentar o risco de doenças como a diabetes.
Mas será que o açúcar é tão viciante como a cocaína?
Certamente já leram esta frase algures na internet ou mesmo em jornais e revistas. Convém explicar que esta declaração tem por base um artigo de revisão, publicado em 2017. Este texto diz, de facto, que em animais “o açúcar produz mais sintomas do que o necessário para ser considerado uma substância viciante.”
Porém, aquilo que se pode realmente afirmar é que alimentos como o açúcar são capazes de ativar os mesmos centros de recompensa e de prazer que são estimulados por drogas, como a cocaína.
O caráter aditivo do açúcar justifica-se pelo facto de que, após comermos açúcar, os níveis de dopamina aumentam e, consequentemente, há uma vontade de comer mais, de modo a prolongar ou a repetir aquela sensação de prazer e de bem-estar, mesmo quando já não temos fome.
No entanto, não há evidência de que o açúcar seja mais viciante do que a cocaína, até porque as pesquisas até ao momento realizadas foram feitas em animais e não em seres humanos.
Saúde dentária vs. açúcar
O açúcar está “escondido” em vários produtos, como doces, refrigerantes, molhos, entre outros. A ingestão frequente destes alimentos aumenta o risco de diversas doenças, tais como: obesidade, diabetes tipo 2, gordura no fígado, doenças cardiovasculares, gota, disbiose, entre outras complicações de saúde possíveis.
No que respeita especificamente à saúde dentária, há vários problemas que podem surgir, fruto do consumo excessivo de açúcar.
Esta é, sem dúvida, a complicação mais falada, também por que é aquela que mais pessoas afeta, independentemente da idade.
Basicamente, quando ingerimos açúcar, estamos a oferecer alimento às bactérias normalmente presentes na boca e que decompõem esse açúcar, originando ácidos que eliminam os tecidos dos dentes e que, consequentemente, criam lesões de cárie.
Neste caso, o consumo de açúcar ainda é mais danoso se for feito fora das refeições ou à noite, antes de ir para a cama.
Esta doença inflamatória crónica tem origem nas bactérias que prejudicam os tecidos de suporte dos dentes.
Além dos muitos problemas que pode provocar, importa dizer que uma alimentação rica em açúcares contribui para a proliferação das bactérias que provocam a doença periodontal.
Quando o consumo de açúcar é alto, é comum que as bactérias existentes na cavidade oral se alimentem de açúcar e produzam ácidos que dissolvem esses minerais.
Consequentemente, o esmalte pode ficar fino e suscetível ao “ataque” de bactérias e ao aparecimento de cáries.
Em muitos casos, o mau hálito tem origem na ingestão de alimentos ricos em açúcares.
Se deixarmos formar a chamada placa bacteriana, ela vai servir de alimento para as bactérias, as quais geram subprodutos da sua fermentação, os quais têm mau odor.
Se o açúcar favorece o desenvolvimento de cáries e de doença periodontal, então podemos concluir que uma dieta muito rica em açúcar pode conduzir à perda de dentes.
Logo, o consumo de açúcar deve ser mesmo moderado.
Tinham noção de todo o impacto que a ingestão de açúcar e de produtos açucarados tem na nossa saúde? Não abdique dos doces, mas reserve-os para dias especiais e termine sempre a sua ingestão com uma lavagem profunda e eficaz aos dentes.
Partilhem comigo quais são as doces tentações a que não conseguem mesmo resistir e experimentem substituir o açúcar neles contidos por alternativas mais saudáveis, como stevia, agave, tâmaras,… E digam-me o que acharam!